Cura-te Tiger Woods e volta!
De imagem irrepreensível, desde as conquistas nos greens até ao casamento com Elin Nordegren, modelo sueca de 30 anos, Tiger Woods passou, num ápice, de ícone a vilão. Várias mulheres confirmaram ter tido relações sexuais com o campeão mundial de golfe, de 34 anos, e a revista americana Vanity Fair fala de uma vida escrupulosamente mantida em segredo, com acompanhantes de luxo, ménages à trois, práticas sadomasoquistas e pagamentos regulares para manter caladas as pessoas envolvidas. Recentemente, o atleta aceitou ser internado numa clínica do Arizona, EUA, para tratar a sua compulsão sexual e salvar o casamento. O golfista, que já foi visitado, na clínica, por Elin, deverá ficar 18 semanas em abstinência sexual. Estará ele a braços com uma das mais velhas questões do mundo - a infidelidade -ou será um homem doente?
A compulsão sexual não é, ainda, reconhecida como uma patologia pelo Manual das Doenças Mentais - por falta de consenso dos especialistas neste campo, sobretudo na Europa. Aliás, é um dado adquirido que os norte-americanos levam bem mais a peito a monogamia do que os europeus. Mas o certo é que as «curas» para vícios sexuais têm-se gradualmente estendido dos EUA para Velho Continente -Portugal incluído como adiante se verá.
Moralismos à parte, o programa de mês e meio de internamento e psicoterapia a que Tiger Woods agora se submete pretende mudar as crenças ligadas ao descontrolo da motivação sexual. Liderado pelo guru Patrick Carnes, mentor do conceito de dependência sexual, desde os anos 1980, o tratamento pressupõe que o viciado não se auto-respeita nem confia nos outros, por achar que será rejeitado se der a conhecer as suas necessidades. Conclusão: «O sexo - como o álcool, a comida, o jogo e o risco -torna [aquele] isolamento suportável, pelo menos por momentos», teoriza Patrick Carnes. E, neste sentido, a compulsão sexual é um transtorno - ou adição comportamental -porque compromete as outras áreas da vida, da familiar à profissional e social. Quanto ao regresso de Tiger Woods aos greens, esse, é uma incógnita - apesar da crescente ansiedade dos fãs.
LIGAÇÕES PORTUGUESAS
«Qualquer uma me servia, desde que estivesse disposta a entrar nos meus jogos sexuais», testemunha o português Telmo, 40 anos. «Aos olhos vendados acrescentei o chicote, depois esticões(…), até ao culminar de prazer que obtinha com choques eléctricos.» Telmo só percebeu que precisava de tratamento após ter sido preso por molestar prostitutas e uma menor. O internamento de seis meses, no Centro de Tratamento Villa Ramadas (para dependências químicas, emocionais e comportamentais), na Aliceira, Alcobaça, mudou-lhe a vida. Na secção de testemunhos do site da clínica, confessa: «Foi complicado ter de partilhar nos grupos de terapia as monstruosidades que tinha feito. Já não recorro a prostitutas e consigo controlar os meus impulsos.»
Em 14 anos de experiência no tratamento de adições, Eduardo da Silva, 46 anos e director terapêutico da Villa Ramadas, apenas recebeu três mulheres (uma portuguesa e duas estrangeiras) com compulsão sexual diagnosticada, sendo os homens, na faixa etária dos 40 anos, os casos mais frequentes. «O sexo é uma das formas mais imediatas que o ser humano tem de obter compensação, alívio e de fugir de si próprio», argumenta Eduardo da Silva. Mas esta procura de prazer imediato leva a pessoa à insatisfação e ao vazio. O modelo seguido no centro aposta na descoberta pessoal, com planos individualizados, internamento de seis meses e abstinência sexual, a manter-se quando saem – nos casados, a fidelidade é a regra a cumprir. No entanto, os grupos de auto-ajuda, essenciais no pós-internamento, não existem, em Portugal. «Isso explica-se tanto pelo reduzido número de pessoas que procura apoio como pelo estigma social», diz Eduardo Silva.
Já José de Melo, 43 anos, e supervisor clínico da Casa Monte da Lua, em Sintra, afirma ter um caso de alcoolismo, com compulsão sexual associada. Este especialista adaptou o modelo dos 12 passos (dos Alcoólicos Anónimos) à psicoterapia individual, que tem a duração média de três meses, em ambulatório, com três sessões semanais.
As recaídas acontecem, mas a «taxa de sucesso pode chegar aos 80%, sobretudo se for cumprida a abstinência, de 30 a 90 dias, e se envolver o cônjuge na terapia», assegura o psiquiatra portuense Serafim Carvalho, de 51 anos, terapeuta sexual há 17. «Os dependentes sexuais só vão à consulta levados pela Justiça ou por familiares», relata o médico. E lembra que, nestes casos, é comum haver uma história de abuso na infância, de um familiar com algum tipo de dependência ou de perturbações da personalidade. Nada é linear e simples.