Entrevista - Part2
P.B. – Também trabalham com as famílias?
J.D.F. – Fazemos terapia familiar. No adicto, quando a doença está activa, a família também fica afectada: questiona-se sobre o que falhou, se foi a educação, pergunta o que fez de errado. E sofre, evidentemente.
P.B. – Que fazem os pacientes, para além das terapias?
J.D.F. – Executam tarefas relacionadas com a manutenção do Centro. Há uma escala diária que organiza essas tarefas: cozinha, lavandaria, jardinagem. Enquanto, lá estão, a casa é deles e têm de cuidar dela. É uma forma de sentirem que são válidos e que é, aliás, muito apreciada pelos que acabam de chegar.
P.B. – Quanto tempo dura o internamento?
J.D.F. – Cinco a seis meses. Quando saem, todos os pacientes levam um plano de vida, com objectivos escritos que devem ser atingidos num mês, em três meses e num ano. Vão sendo reavaliados e esses objectivos são modificados, ano a ano, para que haja sempre motivação. Esse plano encoraja, também, a frequência de grupos de auto-ajuda como os narcóticos anónimos e os alcoólicos anónimos.
P.B. – Continuam a apoia-los ao longo da vida?
J.D.F. – Desde que saem, o apoio é vitalício e gratuito.
P.B. – Matem, portanto uma ligação ao Centro.
J.D.F. – A maior parte das pessoas mantém essa ligação. Quando isso não acontece, é porque alguma coisa está mal.
P.B. – A doença nunca é eliminada?
J.D.F. – A doença não é eliminada, é controlada. Há toxicodependentes que recaem ao fim de 20 anos. 20% dos nosso doentes têm recaídas. Alguns regressam, outros morrem.
P.B. – Conquista-se um dia de cada vez?
J.D.F. – A filosofia Minnesota consiste nisso mesmo: viver um dia de cada vez, viver o presente, valorizar o momento.
P.B. – O que distingue o vosso método?
J.D.F. – A nossa filosofia defende que todas as emoções derivam do medo e do amor. Queremos ajudar os pacientes a acreditarem que o amor é mais forte que o medo, a viverem em harmonia com o seu interior, a descobrirem as qualidade que os podem ajudar.
P.B. – Têm tido sucesso?
J.D.F. – 80% dos nossos pacientes conseguiram uma inserção plena em termos familiares, sociais e profissionais e os maiores catalisadores de novos utentes são os que recuperaram connosco.
P.B. – Sabemos que têm pacientes de diversas nacionalidades.
J.D.F. – É um facto. Temos portugueses, ingleses, belgas, alemães, gregos, espanhóis, franceses, angolanos, canadianos…
P.B. – Têm algum protocolo com o Estado?
J.D.F. – Não. Não temos camas protocoladas. Somos um Centro de Tratamento Internacional privado e não queremos perder a qualidade da nossa filosofia de tratamento.
Também não recebemos subsídios. Somos auto-suficientes.