Quando tudo se resume a sexo
O mundo de João começou a desmoronar-se quando a família se apercebeu dos desfalques na conta bancária da loja. A irmã confrontou-o e ele não teve como escapar.”Contei-lhe tudo e ela deu-me duas hipóteses: Ou procurava ajuda para me tratar ou então ficava sozinho, sem dinheiro e sem apoio de ninguém”.
A escolha não foi imediata, mas João acabou por se render. Aos 50 anos chegou à clínica Villa Ramadas, perto de Alcobaça, especializada em problemas de adição. Nos quatro meses seguintes ficou internado, a reaprender a viver. Hoje diz-se um homem diferentes, mas ainda há temores que não passam. “Continuo a não ter namorada e não sei se quero ter. Nunca mais tive relações sexuais, tenho medo do que possa acontecer”.
Eduardo Silva, psicólogo, é o responsável clínico da Villa Ramadas. Explica que já receberam cerca de 10 pessoas para tratarem problemas de adição sexual, quase todos homens e na sua maioria estrangeiros. “Fazemos terapias individuais e em grupo, em regime de internamento que pode ir até aos seis meses. Também trabalhos com dependentes químicos (viciados em drogas) e misturamos os grupos em sessões terapêuticas. O sintoma da procura do sexo é só o produto final de um vazio que já existe. A pessoa está incompleta”. O psicólogo define a adição como um “hábito forte que se transforma em padrão. È problemático quando a vida familiar e profissional se torna um caos. Quem fica obcecado sexualmente mergulha num carrossel de emoções que não consegue controlar”.