Anos perdidos
Espero que o meu testemunho sirva de exemplo para pessoas a quem o álcool retirou tudo. O certo é que décadas de vício só podiam resultar mesmo numa vida completamente desgovernada. Sem casa, sem apoio da família, sem ter constituído um lar, sem profissão, sem personalidade, sem nada mesmo.
Não me consigo recordar exactamente do momento em que o álcool entrou na minha vida, mas recordo-me que já em casa dos meus pais ele estava sempre presente. Quando dei por mim estava com aparência de 90 anos, embora sendo mais jovem, perdido, a viver na rua e a sobreviver de esmolas.
Porém, tudo mudou quando a minha vida se cruzou com a de um amigo de infância. Ele nem queria acreditar no meu triste destino. Prometeu-me ajuda e levou-me para este centro. Por mais resistência que tenha oferecido, a equipa terapêutica nunca desistiu de mim.
Em oito meses aprendi a viver, o que já não fazia desde tenra idade. Tem sido uma aprendizagem maravilhosa e cheia de descobertas. Aos poucos, vou recuperando os anos perdidos e nunca terei palavras suficientes para agradecer a este amigo que me deu a mão, mas também a esta unidade de tratamento que me devolveu dignidade.