Obcecada pela mãe
Eu sou co-dependente.
A minha vida sempre foi passada com a minha mãe, já que o meu pai nos abandonou quando eu ainda era um bebé. Lutadora, a minha mãe de tudo fez para ficarmos juntas. Casou de novo com um homem que passou a ser como um pai para mim. Tive mais irmãos.
A minha mãe deixou de trabalhar para cuidar dos filhos, só que os meus irmãos tornaram-se independentes desde muito cedo. Eu era a "menina da mamã", de tal forma que me recusava a ter relações amorosas. Fiquei de tal forma obcecada com a relação que tinha com a minha mãe, que até sentia ciúmes de tudo. Se ela dava mais atenção aos meus irmãos eu refilava, se ela trocava carinhos com o meu padrasto à minha frente barafustava com eles, todos os momentos eram passados com ela, não tendo criado amizades.
Os anos passavam e os meus pais estranhavam este meu comportamento, mas sempre pensaram que mudaria quando tivesse um namorado, mas a verdade é que jáera adulta, os meus irmãos com mulheres e filhos e eu ainda sozinha em casa dos pais. Quando o meu padrasto estava a trabalhar, eu ia deitar-me com a minha mãe, aninhando-me a ela, tal como fazia quando era pequena. O meu comportamento continuava igual ao que tinha enquanto criança.
Sem amigos, sem namorados, vivia somente para o trabalho e para a minha mãe. Ela era a minha fiel amiga e não podia permitir perdê-la. Um dia ela disse-me que ia viver para outra região do país, que queria descansar e eu disse logo que também ia, mas ela não concordou, disse que tinha chegado a altura de cortar o cordão umbilical.
Eu fiquei desesperada e tentei suicidar-me com uma sobredosagem de medicamentos. Aí foi a gota de água. A minha mãe ficou desesperada e procurou ajuda para o meu problema de co-dependência. Eu não queria, nem compreendia que problema era esse, mas para lhe fazer a vontade fui visitar a clínica e fiquei surpreendida com as pessoas e com as histórias de vida delas. O pior foi quando soube que tinha que ficar em tratamento alguns meses.
Como iria sobreviver sem a minha mãe? Ela fez-me um ultimato. Entrei em tratamento e afinal tinha mesmo uma doença. Aprendi a reconhecê-la e a lidar com ela. Tornei-me uma pessoa independente e mudei muito. Quando terminei refiz a vida sozinha. A minha mãe mudou-se para outra zona do país e o contacto tem sido reduzido, apesar de falarmos diariamente ao telefone.
Amo-a muito, mas compreendo que o que sentia era um sentimento de posse. Temos uma relação mais saudável e tudo isto porque fiz o tratamento.
Vocês foram não só a minha salvação, mas também a da minha mãe que muito passou para me criar.
Estão no meu pensamento todos os dias.