Crescer em depressão

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Anónimo

A história de vida da minha mulher não é nada fácil.

Em pequena era "saco" de tareia dos pais, que estavam constantemente alcoolizados. Trabalhava afincadamente no campo, sem ter tido a oportunidade de ir à escola. Limpava a casa, cozinhava, tratava da roupa, enfim era a verdadeira "gata borralheira". Se contrariava os pais em alguma coisa, já sabia que iria dormir essa noite na rua, mesmo que estivesse de chuva. Não lhe restavam mais familiares e por isso apesar da maldade dos pais, ela era muito apegada a eles.

De uma das vezes que dormiu na rua, ainda adolescente, foi abusada sexualmente por um polícia. Penso que deverá ter sido a partir daí que entrou em depressão. Apática, fazia tudo mecanicamente. Eu que a conhecia da vizinhança e que sentia um especial carinho por ela, tentei perceber o que se passava, mas ela não era capaz de ter um discurso coerente. Percebi os maus tratos que tinha em casa e para a ajudar a sair dessa violência, decidi pedir a mão dela em casamento, aos seus pais. Claro que estes exigiram-me dinheiro, afinal iriam ficar sem a sua "escrava".

Casámos e de imediato procurei ajuda para ela. Andou alguns anos em psicólogos, mas não adiantava. Mal a conseguia tocar, que ela aninhava-se a um canto. Desesperado, encontrei ajuda na clínica. Era um preço que estava disposto a pagar, porque sabia que só aqui a minha mulher poderia trata a depressão. Ao longo do tratamento fui sabendo dos horrores que ela tinha passado. Que dor que tinha! Poucos meses após o tratamento, ela já conseguia sorrir e aceitar o meu carinho. No mês seguinte, falou-me da infância, no outro mês falava de nós e de uma vida a dois, quando terminou o tratamento era uma pessoa nova. Construímos uma vida aos poucos, tendo em conta orientações da equipa terapêutica. Dois anos passaram e somos um casal normal, com objectivos de vida, à espera do primeiro filho e felizes.

Aqui a minha mulher nasceu de novo para a vida e eu renasci com ela. Um dia de cada vez e a vida sabe bem melhor.

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