Vida isolada
Hoje em dia são raras as pessoas que não tenham sofrido de depressão. Eu sempre que ouvia dizer que alguma pessoa estava deprimida, desvalorizava. Para mim, a depressão era mais uma modernice imposta pela vida diária stressante que se leva. Eu tinha a chamada vida perfeita: marido, filhos lindos, um emprego certo, uma casa feita à minha medida, saúde... Enfim, tudo o que se ambiciona.
Engravidei novamente e inexplicavelmente fiquei muito sensível, sem ter paciência nem coragem para sair da cama. O bebé chorava constantemente e eu não sabia o que fazer, e nem me conseguia sequer aproximar dele. Deixei de trabalhar, não queria ninguém por perto, nem os meus filhos que tanto precisavam de mim. O meu marido era incansável, sempre a tratar de tudo.
Comecei a rejeitar o bebé e tinha-lhe mesmo raiva, porque sentia que ele é que me tinha tornado naquela pessoa. Enfiada na cama, sem ver a luz do dia, era assim que passava os meus dias. Ninguém sabia o que fazer para me animar, era tudo uma situação nova. Quando me sugeriam ajuda médica, exaltava-me e recusava a todo o custo, ameaçando suicidar-me. Um ano após o nascimento deste, consegui ir à rua. Aos poucos ia evoluindo, mas sempre mantendo a distância com os meus familiares. Tão depressa melhorava como regredia, com variações constantes de humor.
Um dia apanhei a minha filha, na altura ainda criança a chorar e a pedir a Deus para trazer a mãe de volta. Aquilo mexeu comigo de tal forma que despertou algo em mim. Precisava de me tratar urgentemente, mas de maneira a que não recaísse nem estivesse sobre o efeito da medicação. Falaram-me da clínica, que já tinha ajudado algumas pessoas num programa de televisão. Tratei logo de tudo por iniciativa própria e lá fui. Afinal a tal doença que eu considerava da moda era o que eu tinha: depressão pós-parto.
Na clínica conheci pessoas com histórias de vida marcantes; na maioria, independentemente da adição, tinham um pouco de depressão também. Percebi que é uma doença que se a pessoa se deixar levar por sentimentos negativos, facilmente a apanha. Dediquei-me aos trabalhos, às leituras, às terapias, envolvi-me no ritmo do tratamento e com alguma resistência inicial, venci. Nunca vou esquecer o brilho nos olhos dos meus filhos quando regressei a casa. Sei que hoje sou uma melhor mãe, esposa e filha, porque este tratamento me ensinou a sê-lo.
Basta procurar dentro de nós a força de viver e deixar-nos guiar pelo nosso poder Superior.