Anorético eu?
Anorético eu? Nem pensar!
Muitas foram as vezes que o afirmei que acabei por me convencer de que era uma pessoa normal. Mas será que ser normal significa ter 37 quilos, para um rapaz adulto com 1,62m? A resposta é óbvia: claro que não nada normal! Eu era o único que achava que estava bem…
Tudo teve início quando o meu pai começou a bater na minha mãe, eu temendo ser uma das vítimas dele, decidi esconder-me no quarto e raramente saia, só quando era para ir para a escola, mas na hora do jantar deixei de estar à mesa. Apenas fazia uma refeição por dia e depressa até essa simples refeição deixou de fazer sentido. Sentia-me angustiado, sem nada poder fazer em defesa da minha mãe e essa angústia enchia-me o estômago de tal forma, que não cabia mais nada.
A minha mãe destroçada, nem se apercebia do que se passava comigo. Os desmaios na escola passaram a ser constantes… Perdi a motivação para estudar, deixei de ter cabeça para estar com os meus amigos, até da natação que tanto adorava desisti… Tudo perdeu o sentido e por isso refugiei-me no meu distúrbio alimentar. Não é que ser anoréctico fosse uma coisa planeada, mas aconteceu.
Tudo mudou quando um dia dei uma queda tão forte que parti as duas pernas e tudo porque os meus ossos descalcificaram com falta de ferro. Aí acordei e pedi ajuda.
Conheci o centro. Fui para lá de cadeira de rodas, mas voltei para casa pelo meu próprio pé e cheio de confiança. Aumentei 15 quilos, os quais queria exibir orgulhosamente. A situação em casa melhorou o que me deu mais força. Sou um anorético em recuperação há três anos, vivo um dia de cada vez, mas sei que nunca mais vou estar sozinho.
Obrigado a todos os que estiveram e ainda estão presentes na minha vida!