Pensava que era gorda
Há uns anos atrás, devido a questões de funcionamento hormonal, engordei repentinamente 5 kg, o que levou a que alguns dos meus amigos e conhecidos me começassem a apontar repetidamente o facto de eu estar um pouco mais gorda.
Se eu já não me sentia bem comigo, por ter ganho aqueles quilos extra sem o desejar, o facto de me estarem sempre a apontar a minha ”gordura” baixou imenso a minha auto estima.
Sabia que tinha de fazer alguma coisa para voltar ao peso anterior, mas por mais que eu fizesse, a tarefa de perder de novo aqueles 5 kg parecia ser completamente impossível.
Foi por essa altura que, sentindo-me desesperada, comecei a travar uma luta contra o espelho e a minha balança.
Primeiro através dos mais diferentes tipos de dietas e depois a cortar mesmo com a ingestão normal de alimentos. De manhã comia 4 bolachas integrais e um chá... ao almoço meia colher de arroz que, de vez em quando, acompanhava com um com um bocadinho de carne ou peixe... e, depois disso, só voltava a ingerir mais uma ou outra bolacha e chá, à noite, mesmo antes de me ir deitar.
Como apesar de todos os meus esforços o peso parecia não diminuir, comecei a ingerir os alimentos e a vomitá-los logo a seguir...
Num curto espaço de tempo emagreci uns 6 kg, mas mesmo assim continuei a querer ser cada vez mais magra, pois embora não correspondesse à realidade, a imagem que continuava a ter de mim era de alguém muito acima do peso sugerido.
Continuei na minha pratica de vomito induzido, tendo chegado a uma altura em que era capaz de comer um bolo de 1 kilo sozinha e vomitá-lo logo a seguir.
Embora tenham demorado algum tempo a perceber o que se passava comigo, a minha família começou a notar o meu isolamento, a minha perda de peso, as minhas idas frequentes à casa de banho logo a seguir às refeições... e depois de se informarem, concluíram (e bem) que eu estava com um problema de distúrbios alimentares.
Os meus pais ficaram extremamente preocupados e levaram-me, contra a minha vontade, a psiquiatras e psicólogos.
Eu não queria mudar... pior ainda, eu não sabia como mudar... e achava que mesmo que quisesse, nunca iria conseguir voltar a ser a mesma... e mesmo vendo-me a perder cada vez mais peso, achava que estava sempre gorda demais... que ainda não tinha atingido, o que para mim seria, a “forma” perfeita...
Para além de outros problemas de saúde, fiquei com anemia e por a tensão arterial muito baixa, sentia constantes dores de cabeça e comecei a desmaiar com alguma regularidade.
Depois de terem tentado tudo, os meus pais lembraram-se de procurar outro tipo de ajuda e dirigiram-se a Villa Ramadas, onde fui internada quase compulsivamente.
Nos primeiros tempos recusei-me a fazer fosse o que fosse do que me diziam para fazer. Fingia que me alimentava (pouco) e vomitava às escondidas...
No entanto, aos poucos, ao sentir a dedicação de quem me tentava ajudar e ao ouvir as partilhas de outras pessoas que estavam a ultrapassar o mesmo tipo de distúrbios, achei que talvez pudesse experimentar fazer “as coisas” de uma maneira diferente... de dar uma oportunidade a mim mesma...
Resolvi aceitar as sugestões dos terapeutas e aos poucos e poucos comecei a sentir em mim algumas mudanças... comecei a lidar melhor com os meus sentimentos... ganhei alguma auto estima, alguns kilos e hoje já me consigo olhar ao espelho sem me achar “gorda”...
Não é fácil, criar novos hábitos alimentares, mas agora acredito que com a ajuda dos terapeutas e dos meus colegas de tratamento, vou ser capaz de superar esta maldita doença e tudo o que de negativo ela representa para mim...