Aceitar o passado
Era preciso acalmar.
Respirar, deixar ir os medos, para poder avançar.
Perdida que estava a capacidade de comunicar, a adição fizera de mim um ser “autista”. Hoje quando olho para trás, vejo o meu isolamento e ainda sinto a minha dor. O passado distante, detém-se na memória, mas agora num registo de paz.
Fiz as pazes comigo, e com o passado. Aceitei os estorvos, chamei a mim as minhas responsabilidades, aprendi a agir de forma distinta. Entre lutas sem sentido, assim eram passados os dias, na procura do preenchimento do infinito vazio.
Eu sentia esse espaço em mim como um vazio e exacerbava o seu tamanho, levando-me à loucura. Precisava de encontrar uma saída, procurava uma solução. Não sabia como, não sabia o quê. Mas esse sentimento de insatisfação estava presente e paralelo à esperança de encontrar paz.
No fundo, tudo aquilo que me levara até aquele estado de autismo e que outrora era o suficiente para me contentar, levou-me à beira do precipício. Bastava um só passo. Se o desse para a frente, não teria volta. Tinha encontrado a paz, através da morte mas também nunca teria sabido o que era a vida.
Felizmente, na minha experiência pessoal e porque acredito num Poder Superior, digo que foi essa força que se manifestou e alguém me ajudou a dar o passo mas na direcção contrária ao precipício. E me trouxe até ao lugar onde me devolveram a vida e me ensinaram a viver. Tão simples quanto isto. Tens uma vida, tens aqui o que precisas para viver. Afinal, o vazio não era infinito e era possível preenchê-lo.
Deram-me a semente do amor, ensinaram-me a semear, semeei, ensinaram-me a tratar, tratei, ensinaram-me a colher, colhi, ensinaram-me a repartir e reparti. E ensinaram-me também a aceitar o que me era dado dos outros cultivos. E aqui é que reside o meu segredo, nem sempre gosto do sabor do que colho, mas agradeço sempre porque bom ou mau, tudo o que me é dado, é vida.
Deram-me tempo, deram-me espaço, deram-me amor.
Acalmei. Respirei. Aceitei e avancei.
Ainda hoje, avanço.
Obrigado.