Aproveitar as Oportunidades
"Desde muito novo que comecei a recorrer a drogas com o objectivo de abafar os meus sentimentos para assim lidar com o alcoolismo e epilepsia do meu pai, com a minha personalidade, com o afastamento da minha mãe e respectiva família; teimei muitas vezes em não aceitar os outros como eles são e só saí prejudicada com isso. Levou-me à solidão, levou-me a desenvolver um orgulho arrogante em mim, culpabilizando tudo e todos. Vitimizando-me todos os dias. Adquirindo ressentimento atrás de ressentimento para com a minha mãe, irmão, avós, etc...
O que é que ganhei com isso?
Anos de afastamento da minha mãe e ter passado sozinha por acontecimentos sem necessidade. Tudo isto porque não soube pedir AJUDA.
Ao longo dos anos de adolescência e juventude passei pelo haxixe, pastilhas, ácidos, mdma (festas de trance, tecno, etc...) até cair na maldita COCAÍNA. Maldita porque me fez abraçar a Heroína.
A dada altura suspendi o curso que estava a tirar (faltava-me 3 meses para acabar) para passar a acompanhar o meu paiàs sessões de quimioterapia pois tinha-lhe sido diagnosticado cancro maligno. Durou poucos anos até que acabou por falecer. A partir daí tornei-me oficialmente toxicodependente, pois já fazia parte do meu dia-a-dia usar.
Desenvolvi uma relação disfuncional que me levou a traficar e a viver o meu quotidiano para aquela vida miserável. Perdi respeito por mim e até pelo meu corpo pois o sexo (para mim) estava associado à cocaína.
Certo dia disse BASTA mais uma vez. Mas desta vez era diferente. Tão diferente que coloquei a minha casa à venda para ir para tratamento e para começar a cuidar de mim.
Peguei no telefone para pedir ajuda pela primeira vez na minha vida. A quem? À minha mãe.
Foi aí que se fez um primeiro milagre: o amor incondicional prevaleceu e juntas começámos uma luta que dura até hoje.
Entrei em VillaRamadas sem drogas consumidas, com 75 ml de Metadona e com 45 kg.
A partir daqui fiquei em boas mãos. Passado um mês estava sem medicação. Comecei a arranjar os meus dentes, comecei a cuidar de mim e, já era uma pessoa completamente diferente.
Saí para Terapia de Realidade (recaí em tratamento na segunda droga de escolha - sexo) e não quis voltar mais.
Não terminei o tratamento e não soube aproveitar a oportunidade porque hoje já tenho mais uma recaída em cima, voltei à metadona e estou sem usar há alguns meses.
Vivo um dia de cada vez, voltei a estudar para acabar o 12.º ano, tenho uma mãe maravilhosa que acredita em mim e não estou sozinha, tenho todos os dias na lembrança.
VILLA RAMADAS e VIVER O SÓ POR HOJE
Obrigado por tudo"