Juventude adormecida
Os medicamentos são, sem nenhuma sombra de dúvida, a minha perdição.
Quer dizer, foram, porque depois de ter feito o tratamento no centro, consegui, de uma vez por todas, levar uma vida normal e feliz, sem que ter que estar sobre o efeito de medicamentos.
Na adolescência tive uma depressão que me deixou completamente de rastos e sem vontade de viver. Tudo foi despoletado com a morte da minha mãe, o meu principal pilar na vida. Vivíamos uma para a outra.
Apesar do meu pai ser uma pessoa presente, sempre tivemos uma relação mais distante. Sem que nada o fizesse adivinhar, foi detectado à minha mãe um tumor maligno, depois de ter ido simplesmente ao médico queixar-se de dores de cabeça. Aconteceu tudo tão depressa, no espaço de um mês faleceu. Foi como se eu tivesse morrido com ela.
Nem tempo tive para me mentalizar, nem para me despedir dela. Mas como é que se pode exigir a uma jovem que encaixe uma situação destas? Isolei-me, deixei de ir às aulas, de estar com os meus amigos, de comer, de cuidar da minha higiene diária… deixei de viver.
O meu pai, desesperado e sem saber lidar comigo, levou-me a um psiquiatra que me receitou imensos medicamentos. Acabei por me viciar e como sentia que não melhorava, comecei a automedicar-me e a comprar outros comprimidos que ia pesquisando na internet. Andava um verdadeiro “zombie”, tais não eram as doses.
Regressei à escola, mas não me conseguia concentrar, porque o sono não me deixava. Já parecia uma velha inactiva. O meu pai veio a descobrir que eu estava viciada em comprimidos e tomou uma atitude radical, que na altura não entendi, mas que hoje lhe agradeço imensamente.
Decidiu que eu tinha que vir para esta unidade de tratamento para me tratar. Apesar da minha tenra idade, adaptei-me de imediato, era a menina protegida de todos. Sentia-me bem com tanto carinho, amor e amizade que me davam. Aos poucos, a médica foi reduzindo os comprimidos, até deixar de tomar por completo. Foi uma enorme diferença.
Além disso, ainda fiz o luto pela morte da minha mãe, de forma a ajudar-me a libertar-me dos meus medos. Tracei objectivos. Não vou esquecer o dia em que acabei o tratamento, custou-me muito, porque ali tinha criado uma família, mas o meu pai também precisava de mim. Tornei-me uma mulherzinha e acabei por ser o pilar da casa. Nunca vou esquecer o quanto este tratamento fez por mim. Hoje se sou uma pessoa equilibrada e feliz, devo-o muito a eles.
Com um sorriso nos lábios e sempre a viver um dia de cada vez, é esta a minha filosofia de vida, porque o que não nos mata, torna-nos mais fortes.