Dependência do Jogo
Há quem não admita determinados comportamentos compulsivos como fazendo parte de uma adição, isto é, como sendo sintomas de uma doença.
Há quem pense até que só se é dependente de álcool ou drogas, “coisas” essas que são passíveis de dar “cabo da vida”, de levar a roubar e a dormir onde calha.
Distanciam-se assim de uma realidade que pode estar bem perto, argumentando, não raras vezes, que a Psicologia e outras ciências se baseiam em teorias vãs e que cursos desses até poderiam sair na forma de brinde numa caixa de cereais de pequeno-almoço.
Como exemplo, ser “Playstationdependente” poderá ser visto como sendo uma parvoíce, como algo que não existe.
Puro engano! O erro está em negar as evidências.
Uma dependência, seja ela de substâncias ou de um comportamento, é determinada pelo facto de a nossa vida girar de tal forma à volta dessa substância ou comportamento, que nos sentimos governados e não governadores.
Ser dependente não é um estado de tudo ou nada; pelo contrário, a dependência é um ato contínuo, em relação ao qual nos podemos situar entre um muito pouco e um muito muito, embora não seja o factor quantidade que mais defina a adição.
A marca patológica da dependência reside na forma como um determinado comportamento obsessivo e compulsivo é capaz de afetar as relações pessoais, familiares e profissionais.
Os sinais de alerta começam quando se está, percebendo-o ou não, a perder independência face a uma substância ou a um qualquer produto concreto ou comportamento.
Falar unicamente de dependência de tóxicos é, no entanto, miopia psicológica.
Neste caso, a pessoa dependente do jogo vive de e para a expectativa de ganhar e de e para a adrenalina do risco.
Apesar da intermitência (porque perder é natural e assim sendo o reforço emocional é descontínuo), a dependência instala-se quando o jogo toma completamente conta da vida do sujeito, ocasionando consequências nefastas para o jogador compulsivo e respetivos familiares, amigos, colegas de trabalho…
Uma dependência é um comportamento patológico, que passa a povoar 99 por cento dos pensamentos do indivíduo.
Diversas são as vertentes em que se pode manifestar a predisposição para a dependência do jogo.
Os Casinos e a Internet são, então, locais de eleição de jogadores compulsivos.
Os casinos oferecem slot machines, roleta, blackjack, poker e outros jogos de fortuna e azar, sendo de salientar que os jogos de casino são concebidos de forma a que as probabilidades de ganho sejam mais favoráveis ao casino do que aos jogadores.
Seja qual for o estilo de dependência do jogo, o relevante é que este passa a ser a prioridade total e, às vezes, absoluta do indivíduo.
O dependente do jogo não pensa em mais nada a não ser no jogo, não estuda, não trabalha e não convive nem familiar, nem socialmente… o jogo passa a ser toda a sua vida!
A dependência do jogo traduz um comportamento passível de se tornar, de modo gradual, incontrolável, podendo mesmo, no caso de não haver qualquer tipo de intervenção, atingir o descontrolo completo e a destruição pessoal e financeira do dependente.
A dependência é, regra geral, detetada num estádio já bastante avançado, normalmente a partir do desespero patenteado pela pessoa (suscetível de desencadear nele ideias de suicídio), que pode ter origem no facto de, para além de poder já ter perdido quase tudo o que possuía, ter ainda apostado a casa, o ordenado, o carro… enfim, tudo o que ainda possa ter algum valor.
As relações (familiares, laborais e sociais) sofrem uma constante e gradual degradação e a própria qualidade de vida também, uma vez que a pessoa pode chegar ao cúmulo de não ter um tecto para se abrigar ou um prato de comida para comer.
O jogo excessivo e compulsivo consubstancia, efetivamente, uma doença passível de conduzir a uma espiral de perdas pessoais, familiares e financeiras.
A pessoa pode estar horas e horas seguidas sentada a uma mesa de jogo, agarrada a uma máquina, à frente de um ecrã de computador ou a outra via de jogo, como por exemplo “raspadinhas”, deixando lá todo o dinheiro que possui e, por vezes, até aquele que não possui.
É a ação que os jogadores compulsivos procuram e não o dinheiro.
No entanto, vão entrando em apostas cada vez mais avultadas e assumem riscos progressivamente maiores, a fim de conseguirem alcançar os níveis de excitação desejados.
A dependência do jogo pode também coexistir com perturbações de ansiedade, de humor ou com adição ao álcool e/ou às drogas.