A dor da auto-mutilação
É com alguma dor que escrevo este meu testemunho, mas uma dor que já está a ser ultrapassada, só que como é ainda recente, não sarou na totalidade.
Terminei o tratamento para auto-mutilação há poucos meses, por isso a situação ainda é fresca. No entanto, quando olho para trás parece que já faz parte de um passado bem distante, em que a personagem principal não podia ser eu, mas a verdade é que era.
Sempre fui uma pessoa ambiciosa, inteligente e com o sonho de conseguir um certo objectivo a nível profissional e era por esse objectivo que me esforçava, sempre na esperança de triunfar. Estive 9 meses a ser posta à prova, testes atrás de testes, avaliações e entrevistas, enfim tudo o que se possa imaginar, mas a verdade é que até me estava a sair bem.
O pior foi quando saíram os resultados finais, depois de tanto tempo de ansiedade e expectativa. Para uma vaga apenas, tinha ficado em 2º lugar. Em 2º lugar? Mas que raio de posição era esta? Mais valia ter ficado em último lugar, que assim era mais fácil conformar-me… Tive que continuar no meu emprego, onde já nada me estimulava. Só que dentro de mim crescia uma dor gigante, foi o ter falhado, quando na minha vida estava acostumada a triunfar.
Tanta dor e sem saber o que fazer com ela. Até que um dia, agarrei numa tesoura e fiz um pequeno corte no pulso. Não senti dor, aliás estranhamente sentia-me aliviada. Desde aí que não parei mais. Para esconder as marcas dos cortes, usava camisas compridas. Além disso cortava-me nas pernas, porque assim sempre levantava menos suspeitas.
Em alguns dias cheguei a sangrar sem parar, mas sadicamente gostava de ver todo aquele sangue. O pior foi quando um corte menos preciso me perfurou uma veia principal. Quando acordei já estava numa cama de hospital. A minha família estava em choque com tal situação. Como é que a menina certinha tinha chegado aquele ponto? Sinceramente nem eu sei explicar.
No meio de tanta confusão, quando realmente dei conta do que me estava a acontecer, já estava a fazer tratamento neste centro.
Inicialmente mostrei resistência, mas pouco a pouco rendi-me às evidências. Andava-me a torturar aos poucos e aqui ensinaram-me a voltar a acreditar na vida.
Passaram somente uns meses desde que terminei com sucesso o tratamento, ainda me custa adaptar à realidade, mas com o apoio que tenho tido e a viver um dia de cada vez, eu já estou a vencer…