Afinal não é cool a auto-mutilação
A auto-mutilação surgiu na minha vida bem cedo.
Era jovem e na altura era moda desafiar a morte. Hoje percebo que era uma coisa estúpida, mas na época queria ser aceite pelos meus amigos. Eles tinham por hábito cortarem-se das mais variadas maneiras, nos intervalos das aulas. Diziam que era cool e que lhes dava pedrada. O meu primeiro corte foi para fazer um pacto de Irmandade, imaginem a parvoíce!
Eram sempre cortes superficiais, com a tesoura que usávamos nas aulas de trabalhos manuais. Um dos meus colegas fez uma infecção, outro cortou demais e atingiu uma veia principal, que se esvaiu em sangue. Cortávamos os pulsos, as pernas, a barriga… Depois andávamos sempre com roupa a tapar tudo. Quem tivesse mais cortes era o mais respeitado. Realmente há com cada parvoíce…
E assim, aderi a esta parva moda de auto-mutilação, da qual fiz parte ainda uns anos. É que sempre me soube controlar, até que um dia, o corpo cheio de marcas e a minha ambição de ir mais longe, fez com que um corte me mandasse para a cama do hospital. Os meus pais ficaram em choque quando souberam. Culparam-se por tudo e lá procuraram soluções.
Deram com VillaRamadas e aí tudo mudou e eu fui para a clínica. Era um jovem rebelde e revoltado, que só queria quebrar as regras. Não foi fácil “quebrarem-me”, mas lá conseguiram. Depressa tomei consciência das atitudes inconsequentes que andava a tomar. Aprendi a respeitar a vida e a apreciá-la.
Hoje, passado um tempo após ter concluído o tratamento, sinto que me tornei outra pessoa, mais responsável e madura. Cortei as más amizades do passado e tenho tido sucesso. Se não fosse a clínica hoje poderia já não estar vivo, mas a verdade é que venci…
Só por hoje não me vou auto-mutilar e vou aproveitar o dia…