Basta de auto-mutilar
Na maioria dos casos, a auto-mutilação está associada a raparigas, mas eu sou um rapaz e também me auto-mutilei por bastante tempo.
Tudo começou quando me apaixonei loucamente por uma colega de turma. Éramos muito unidos e eu sentia que havia ali mais do que uma amizade. Apoiava-a em tudo, até quando tinha problemas em casa com os pais. Eu estava sempre lá para ela e esperava o mesmo ao contrário, só que enganei-me redondamente. Depois de um ano a alimentar toda aquela amizade na esperança de conseguir vir a ser namorado dela, apanhei um balde de água fria, quando de um momento para o outro, ela comunica-me que estava apaixonada por um vizinho.
O meu mundo desabou.
Foi a pior coisa que me poderia ter acontecido. Afastei-me dela, o que ela nunca entendeu, mas também não tive coragem de falar dos meus verdadeiros sentimentos. Passei a ignorá-la e juntei-me a um grupo de colegas que tinham rituais estranhos, nomeadamente, fazerem provas de cortes nos braços, a ver quem fazia o melhor corte. Ridículo, hein? Mas na altura era um jovem e nem sabia o que era correcto.
Claro que esta brincadeira não podia mais dar certo, porque além de me cortar com o grupo, fazia o mesmo sozinho no meu quarto.
Um dia a minha mãe veio dar comigo desmaiado no quarto, já quase sem respirar. Fui levado de urgência para o hospital e mal tive alta dei entrada aqui. Não quis aceitar o tratamento, achava que não se justificava, mas com o passar do tempo, percebi que aqui não aprendia só a lidar com o meu problema de auto-mutilação, aqui aprendia a lidar com os obstáculos diários.
Foi uma grande lição de vida e hoje, passados uns anos, ao olhar para trás já nem me consigo rever naquele jovem. Neste centro renasci e nunca vou conseguir agradecer o suficiente...ou melhor, basta não me auto-mutilar.
