Amor perdido

Há dois anos perdi aquele que era o meu grande amor e conseguir ultrapassar esta perca tem sido uma luta diária.

Além de meu marido, era o meu melhor amigo, o meu companheiro… Estivemos juntos por vários anos, mas mais parecia que estávamos juntos desde sempre. Bastava um olhar, um gesto, um suspiro e conseguíamos decifrar o que ia na mente do outro. Era a relação perfeita, que infelizmente não teve tempo de dar frutos.

É triste olhar para trás e perceber que ficou tanto para fazer e dizer. Não sei se mais alguma vez me vou conseguir entregar desta forma, tão intensa e sentida. O que mais me custou a aceitar, foi o facto de ele ter morrido de forma inesperada com um enfarte, quando era um homem saudável, sempre a praticar desporto e a ter uma alimentação cuidada.

Passei os primeiros cinco meses após a sua morte, fechada em casa, confinada ao nosso quarto e às recordações. Queria morrer também… Num estado deplorável, acabei por ter o apoio de amigos que me incentivaram a fazer um tratamento para aprender a lidar com o luto.

E foi assim que conheci o Centro e toda a sua filosofia de vida. Foi das melhores experiências que tive até hoje na minha vida e nunca vou esquecer o quanto fizeram por mim.

No início, confesso que muitas foram as vezes que ainda pensei em desistir, pois lidar com tanta dor era demasiado doloroso. Aos poucos fui conhecendo histórias de pessoas que estavam a passar pelo mesmo sofrimento e juntos conseguimos ajudar-nos. A morte de alguém é sempre um assunto delicado.

Ao fim de seis meses de tratamento decidi que no regresso a casa daria uma volta na vida e lutaria para levar os sonhos que tinha em diante. Tomei coragem de ir viver para o estrangeiro e trabalhar numa área que sempre me motivou: apoio psicológico a crianças carenciadas. É de Moçambique que escrevo este testemunho com muito amor.

Adoraria que o meu marido estivesse aqui comigo, mas aposto que mesmo não estando presente, de certeza que está orgulhoso de todos estes passos que tenho dado.