Maldita sujidade
Em VillaRamadas consegui acabar com a minha maior fobia: a sujidade.
Muita gente ri-se quando lhes conto isto, mas é mesmo verdade. Cheguei a ter ataques de pânico por ver uma única mancha de pó. Desde pequena que fui habituada a ajudar a minha mãe a fazer a limpeza da casa. Mesmo com as coisas a brilhar, havia sempre algo por limpar ainda mais. A casa por mais limpa que estivesse, para mim não estava e se alguém vinha e desarrumava algo ou sujava, fazia um esforço para não ralhar.
Mal a pessoa saia lá ia eu com o pano do pó atrás. O meu pai andava "passado" com a situação, já que ele era a maior vítima. As nossas zangas eram frequentes, porque eu sentia que ele não respeitava o trabalho que eu tinha em deixar tudo limpo.
Nunca estava descontraída e se ia a casa de alguém e via sujidade, lá ia eu limpar, chegando mesmo a ofender as pessoas. E assim foi até aos meus 16 anos, que na verdade eu já sentia ter mais de 50 anos...
Nunca relaxava nem descontraia, chegava ao extremo de desinfectar tudo com o álcool e de andar com luvas em casa. Sentia-me esgotada e comecei a perder a vontade de viver. Os meus dias, quando não estava nas aulas, eram passados em casa a fazer limpezas.
Por iniciativa própria, procurei ajuda e encontrei a solução na clínica. Confesso que o início foi desesperante, queria estar fechada no quarto a limpar tudo. A bagunça à minha volta deixava-me louca. Ter que conviver com tanta gente era uma tortura. Mas aos poucos fui-me entregando ao tratamento, fui fazendo os trabalhos e passei a descontrair mais.
A limpeza deixou de ser a minha prioridade. Aprendi a apreciar outras coisas na vida. Foram seis meses muito intensos, mas todos os dias tinha uma nova vitória. As idas a casa não eram fáceis, pois era quando a minha fobia queria sobressair, mas eu lá conseguia controlar a situação.
Já passaram quatro anos, estou a viver sozinha e é certo que tenho a minha casa sempre limpa, mas já não me tira o sono ir dormir com a louça por lavar...