Mazelas Obsessivas
Eu e a minha irmã temos uma diferença de poucos anos. Como tal, crescemos juntas e a partilhar o quarto. Cúmplices em tudo, até mesmo quando era para limpar o quarto estávamos em sintonia.
Tudo mudou quando ela atingiu os 18 anos e começou a tirar um curso profissional. Chegava a casa estafada, mas ainda limpava o quarto de uma ponta à outra e fazia isto todos os dias. Terminada a limpeza, enfiava-se no quarto a tomar banho por mais de duas horas.
A roupa tinha que ser toda lavada, recusava-se a repetir roupa que já tinha usado. Além disso, implicava comigo constantemente, tendo-se tornado insuportável.
Os meus pais estavam constantemente a separar-nos. Quando tínhamos um momento de calma, contava-me horrores sobre os idosos. Eram chocantes as coisas que via e que tinha que fazer, mas havia um momento que a tinha marcado e o qual repetia diariamente: estava a limpar um idoso, que lhe morreu nos braços e caiu em cima dela.
Por estranho que pareça, foi a partir desse momento que ela desenvolveu atitudes típicas de um obsessivo compulsivo.
Incentivei-a a pedir ajuda a uma pessoa especializada em transtornos deste tipo, mas escusado será dizer que não o fez. A verdade é que a cada dia que passava estava cada vez mais difícil conviver com ela. Um dia esteve quatro horas trancada na casa de banho a desinfectar-se.
Achei um absurdo e resolvi ir ver o que se passava. Estava caída no chão, inanimada. Chamei o Inem e ficou internada. Tinha o corpo em sangue, com feridas profundas, de tanto esfregar. Esta situação tinha que terminar e foi assim que entrou em tratamento.
Custou-lhe muito no primeiro mês, mas a partir daí foi sempre a evoluir. Lidou com o que a atormentava e reconstruiu a vida. Mudou de ramo profissional e voltámos a partilhar quarto, mas de uma forma mais saudável.
A minha irmãzinha está de volta e eu não podia estar mais do que agradecida a tudo o que fizeram por ela.
São únicos!