Internamento para a Dependência do Telemóvel
Andar com um telemóvel de última geração é indicativo de um certo estatuto social e, quiçá, profissional, assim como de uma desejável modernidade.
Fazer e receber muitas chamadas é designativo de grande solicitação social e de um grupo alargado de amigos.
Tudo isto não levantaria qualquer problema se pudesse não se estar na génese de uma terrível adição, uma dependência que se alimenta a si mesma, à medida que se usa mais e mais o telemóvel para satisfazer uma necessidade ou para serenar uma ansiedade.
O internamento para a dependência do telemóvel propicia o corte imediato com o sinal mais visível da doença: o uso compulsivo do telemóvel.
É natural verificarem-se sintomas de abstinência, como em qualquer outra dependência.
O paciente, integrado numa comunidade terapêutica, poderá constatar na coesão do grupo a confirmação de que, independentemente do que levou cada um ao centro de tratamento, a força da obsessão é idêntica para todos e é essa identificação a força para avançar, dando pequenos passos, mas firmes e sólidos, na companhia de iguais e podendo contar com o seu apoio incondicional.
Neste tipo de internamento, contraria-se a tendência do indivíduo para se afastar do mundo e para compensar esse afastamento com jogos interativos, SMS e outros.
A desabituação de uma relação verbal e a incapacidade de enfrentar uma relação direta com os próprios recursos afetivos, provocadas pelo uso excessivo do telemóvel, caem por terra no seio de um grupo.
O dependente do telemóvel poderá experimentar o regresso da sua espontaneidade e da sua autenticidade, com a plena certeza de ser aceite tal como é.
Fará um trabalho profundo para descortinar os problemas que lhe causaram a dependência e aprenderá a autorregular-se na relação com o telemóvel.
Ser-lhe-ão sugeridas maneiras de, quando voltar para casa, o usar menos e de forma mais correta, limitando, deste modo, a sua influência e o seu alcance psicológico.
Por exemplo, deixá-lo “esquecido” de propósito e resistir à ansiedade que dilacera assim que se fecha a porta de casa; afastá-lo ou escondê-lo, durante umas horas, que se podem ir dilatando, até conseguir controlar a ansiedade da espera; evitar telefonemas desnecessários, para desacostumar a mente de uma necessidade de comunicação alimentada e forçada pelo próprio, entre outras.
Os breaks (fins de semana em casa) são ótimos para ensaiar in loco estas e muitas mais técnicas ensinadas.
No internamento para a dependência do telemóvel, o paciente vai ainda recuperar os seus antigos interesses e hobbies, como desporto e passatempos que costumavam dar-lhe prazer.
Atenuar-se-ão as suas variações de humor, as perturbações das rotinas alimentares e de sono e cessará o recurso a drogas e medicamentos.
Simultaneamente, interrompem-se, no tempo de internamento para a dependência do telemóvel, os conflitos familiares e laborais e uma eventual bancarrota financeira.
Embora os jovens corram maior risco de desenvolver um uso patológico do telemóvel, qualquer pessoa está sujeita a esta dependência.
A questão é ter consciência de estar a deixar-se ir “na onda” e pedir ajuda antes de se “afogar”.