Transtorno Obsessivo-Compulsivo
A Perturbação Obsessivo-Compulsiva, considerado até há pouco tempo, por alguns, como uma mania, uma “pancada” ou até como sendo uma “expressão de falha mental”, é hoje vista, por esses mesmos ou outros mais esclarecidos, como uma perturbação de base emocional e relacional, em que falhar é exatamente a palavra proibida.
De facto, o perfecionismo é uma das marcas mais vincadas desta patologia e povoa de tal forma as preocupações de quem sofre desta perturbação que, em casos extremos, é quase tudo o que lhes resta na vida.
Na verdade, os rituais associados a verificações infindáveis, a limpezas demoradas, a contagens prolongadas, à busca permanente de uma ordem de objetos, a descontaminações (quase mais rigorosas do que as levadas a cabo numa sala de cirurgia) e a inquietações exacerbadas com a simetria, produzem, para além de um cansaço extremo, uma total ausência de espontaneidade.
A descontração é, para quem sofre com esta perturbação, um conceito absolutamente estranho.
Dá-se uma inversão da escala de prioridades e de valores e o indivíduo passa a viver, praticamente em exclusividade, para dar resposta a tais impulsos, numa perspetiva inconsciente de reduzir a ansiedade que lhe advém do medo de que algo trágico ocorra se não realizar essas ações.
O indivíduo encontra-se, então, entre a espada e a parede, uma vez que executar os rituais o esgota e conduz a inevitáveis conflitos com quem o confronta a esse nível (mormente a família ou amigos mais próximos) e, por outro lado, não os efetuar desencadeia nele uma insuportável condição ansiosa.
As coisas tidas como simples complicam-se até ao impossível e começam a evitar-se situações, lugares, pessoas e objetos considerados causadores do mal-estar.
O “ritualista” mantém-se em estado de alerta constante, com o intuito de controlar tudo e todos, o que lhe traz não só uma fadiga excessiva, mas uma enorme frustração, porque, na verdade, o seu intento é irrealizável.
A Perturbação Obsessivo-Compulsiva não apresenta a linearidade de outras adições, apresentando, em diversas circunstâncias, uma linha de fronteira bastante ténue com o que se padronizou como suposta normalidade.
Os limites nem sempre são percetíveis, pois não se trata de consumir ou não consumir substâncias, comprar ou não comprar isto ou aquilo, tomar medicamentos ou não tomar, estar ou não estar na cama ou no sofá o dia todo em depressão, navegar ou não horas e horas pela Internet.
É uma questão de procurar obsessiva e compulsivamente o equilíbrio em cada tarefa, em cada gesto, em cada reação, em cada espaço, em cada contexto: ao amanhecer, ao anoitecer, de dia, de noite, no horário laboral, nos períodos de lazer, 24 horas de cada dia do ano, sem folgas nem férias, fins de semana ou feriados.
No entanto, continuando a haver uma enorme incompreensão relativamente a esta dependência comportamental e àqueles que dela dependem e que são frequentemente acusados de não desenvolverem suficiente força de vontade para debelar o seu problema, a verdade é que sem ajuda não o conseguem fazer.